facebook pixel

Telefone 212 693 530* *Custo de Chamada para a Rede Fixa de acordo com o seu tarifário

Microdeleção recorrente 1q21.1 – Apresentação de 2 casos detetados por arrayCGH

Livro de casos clínicos - 2019 - Caso 9

Sumário

A microdeleção recorrente 1q21.1 (OMIM: 612474) é uma alteração genética rara, com uma apresentação clínica muito variável. Há indivíduos que não apresentam qualquer manifestação clínica óbvia enquanto outros apresentam características variáveis. As características mais comuns são a microcefalia, o défice cognitivo de ligeiro a moderado, o atraso de desenvolvimento psicomotor bem como ligeiras dismorfias faciais. Também se encontram descritas na literatura características menos frequentes tais como: malformações cardíacas, anomalias esqueléticas, distúrbios do sono e convulsões. Esta microdeleção também aparece associada a indivíduos com perturbação do espectro do autismo e patologia de défice de atenção e hiperatividade (1, 2). Descrevemos dois casos clínicos de indivíduos portadores da microdeleção recorrente 1q21.1 detetada por arrayCGH.

Introdução

Durante muitos anos, o diagnóstico laboratorial inicial das crianças cujo fenótipo incluísse atraso de desenvolvimento psicomotor, défice cognitivo, dismorfias faciais e microcefalia (as características mais frequentes da microdeleção 1q21.1) passava pela análise citogenética e realização do cariótipo. Pela limitação da resolução das técnicas citogenéticas esta microdeleção e outras não eram detetadas. Desde 2010 que está recomendada a utilização de técnicas moleculares tais como a análise cromossómica por microarray em indivíduos com atraso de desenvolvimento e/ou anomalias congénitas onde a rentabilidade diagnóstica passa de 3% para aproximadamente 15% (3). A microdeleção 1q21.1 apenas pode ser detetada mediante técnicas moleculares e, devido a variabilidade fenotípica observada nos seus portadores anteriormente descrita, o método mais utilizado arrayCGH.

Caso 1

Recém-nascido do sexo feminino que nasce às 36 semanas de gestação, através de cesariana eletiva devido a uma restrição de crescimento intrauterino e oligoamnios. Apresentava à nascença um fácies ligeiramente dismórfico: fissuras palpebrais descendentes e ptose bilateral, filtro labial longo e liso com lábios finos, narinas antevertidas, ligeiro retrognatismo e aplasia cútis. Para além das características descritas, apresentava uma prega palmar transversal única à esquerda e sindactilia 2º-3º dedos do pé esquerdo. A análise do cariótipo foi normal (46,XX) e foi proposta a realização de arrayCGH aos 4 meses que revelou uma deleção de 2,68Mb de novo. Esta deleção compreende 16 genes OMIM (Figura 1). Aos 23 meses de idade apresenta um desenvolvimento psicomotor normal. Os pais são saudáveis e não consanguíneos.

Caso 2

A menina do caso 2 nasce com 36 semanas de gestação e foi submetida a cesariana eletiva devido a restrição de crescimento intrauterino. Apresentava microcefalia com fontanela normal e características faciais dismórficas: retrognatismo, nariz com ponta elevada e narinas antevertidas, pregas epicânticas e lóbulos das orelhas dismórficos. Apresentava membros curtos do tipo rizomélico, artrogripose do cotovelo bilateral, hipolaxidão dos membros inferiores, com posição anómala dos pés em rotação externa e atraso no desenvolvimento. Desde o nascimento que revelou dificuldades na alimentação tendo sido alimentada por sonda nasogástrica. A análise do cariotipo foi normal (46,XX) e foi proposta a realização de arrayCGH aos 19 meses de idade que revelou uma deleção de 1,3 Mb que engloba 10 genes OMIM (Figura 2 - na página seguinte). Os pais são saudáveis e não consanguíneos. Estudos parentais encontram-se ainda em curso.

caso 8

Figura 1. Perfil do arrayCGH do Caso 1 - deleção de 2,68Mb em 1q21.1-1q21.2. arr(GRCh37)1q21.11q21.2(146514772_149202620)x1dn arrayCGH 180K (Agilent Tech)

caso 8

Figura 2. Perfil do arrayCGH do Caso 2 - deleção de 1,3Mb em 1q21.1-1q21.2. arr(GRCh37)1q21.11q21.2(146514772_147824207)x1 arrayCGH 180K (Agilent Tech)

Discussão

A microdeleção 1q21.1 é geralmente referida como a microdeleção distal recorrente de 1,35-Mb. O seu diagnóstico é estabelecido pela deleção heterozigótica de aproximadamente 1,35Mb em 1q21.1 e inclui pelo menos 8 genes, entre os quais PRKAB2, FMO5, CHD1L, BCL9, ACP6, GJA5, GJA8, GPR89B (1, 4) e que corresponde à deleção encontrada nos dois casos relatados.

As microdeleções detetadas nos dois casos descritos apresentam tamanhos diferentes (2,68Mb e 1,3Mb) e, apesar de partilharem muitos dos genes deletados, não são conhecidas mutações genéticas ou haploinsuficiência dos genes afetados que possam justificar o fenótipo variável da microdeleção 1q21.1.

Estas deleções podem surgir de novo ou podem ser herdadas de forma autossómica dominante de progenitores completamente normais ou ligeiramente afectados. Isto corrobora com uma penetrância reduzida e expressividade variável associada à microdeleção 1q21.1 (5, 6).

O estudo genético dos progenitores é fundamental para um aconselhamento genético adequado. Se um dos progenitores for portador da mesma deleção, o risco de a transmitir à descendência é de 50% em cada gravidez, por outro lado se nenhum dos progenitores for portador o risco de voltarem a ter um filho portador da microdeleção1q21.1 é inferior a 1%. Estes dois casos ilustram bem a utilidade de realizar arrayCGH em vez de cariótipo como teste de diagnóstico de primeira linha em indivíduos com patologia do desenvolvimento, e/ ou anomalias congénitas (7).

Um diagnóstico precoce permite um melhor e mais eficiente acompanhamento clínico multidisciplinar bem como a identificação de membros da família em situação de risco para um correto aconselhamento genético.

Se tiver alguma questão adicional: