Publicação: 03/05/2022
De etiologia desconhecida em idade pediátrica
A 5 de abril de 2022 foi reportado um aumento dos casos de Hepatite aguda de etiologia desconhecida no Reino Unido em crianças previamente saudáveis até aos 16 anos de idade. Os estudos laboratoriais excluíram as hepatites virais A, B, C, D e E e outras causas conhecidas de hepatite aguda neste grupo etário como os vírus Epstein-Barr (EBV), citomegalovírus (CMV), parvovírus, etc. Após este alerta, vários casos suspeitos foram reportados por países da UE e também nos EUA.
Até à data, cerca 200 casos suspeitos foram reportados, distribuídos por 16 países. Uma criança morreu e 17 foram submetidas a transplante hepático.
A investigação para determinar a etiologia definitiva ainda está em curso, embora, de acordo com os últimos resultados, a hipótese mais provável é que seja o Adenovírus subtipo 41F a estar na origem destes casos de hepatite aguda severa em crianças.
Em Portugal, a Direção Geral de Saúde criou uma task-force, em articulação com o programa Nacional para as Hepatites Virais e com a Sociedade Portuguesa de Pediatria; a sua incumbência é o acompanhamento e atualização da situação internacional, avaliação de risco a nível nacional bem como a elaboração de orientações técnicas para a deteção precoce de eventuais casos que venham a ser identificados no país.
O que é a hepatite aguda?
O que é a hepatite aguda?
A hepatite é a inflamação do fígado. Existem diferentes etiologias que podem levar a esta inflamação, nomeadamente infeções e intoxicação por substâncias. Os agentes infecciosos mais comummente implicados são os vírus que causam as hepatites A, B, C, D e E.
Quando a inflamação ocorre rápida e abruptamente, fala-se numa situação de hepatite aguda.
Apresentação clínica
a maioria dos casos, as crianças apresentaram inicialmente sintomas gastrointestinais, nomeadamente náuseas, vómitos e diarreia, alguns com febre e prostração e cansaço aos quais se seguiu a icterícia (pele e olhos amarelos).
Laboratorialmente, apresentavam transaminases (enzimas do fígado - ALT e AST) muito elevadas (>500 UI/L).
Adenovírus, o que são?
Adenovírus, o que são?
A família dos adenovírus é constituída por cerca de 50 espécies, nomeadas de A a G. A circulação destes vírus é constante ao longo de todo o ano.
São vírus relativamente comuns que podem causar sintomas respiratórios e gastrointestinais, com períodos de incubação que podem variar entre 2 e 14 dias. Geralmente a infeção por estes vírus tem uma duração limitada e não evolui para situações de maior gravidade. Em situações raras, infeções por adenovírus têm sido relacionadas com hepatite aguda em doentes imunocomprometidos (por ex. doentes com cancro, transplantados, diabéticos).
A transmissão pode ocorrer por contacto direto com doentes infectados, através da inalação de partículas respiratórias (gotículas) e contacto com superfícies infectadas (por exemplo brinquedos, talheres, louça e sanitários).
Existe relação com a vacina para a COVID-19 ou com a COVID-19?
De acordo com a informação disponível até ao momento, na maioria das crianças afectadas ainda não tinha sido administrada a vacina, o que exclui uma relação com a mesma.
Em alguns casos foi detectada a presença do vírus SARS-COV-2 (COVID-19) e esta é uma das linhas de investigação que ainda está a ser seguida juntamente com a dos adenovírus.
Tem tratamento?
Atualmente, a terapêutica utilizada procura aliviar os sintomas, não havendo terapêutica específica dirigida; nos doentes com hepatite aguda grave, o internamento hospitalar é obrigatório para a sua estabilização e, em casos muito graves com falência do fígado, pode ser necessário transplante hepático.
O que podem os pais fazer para proteger as crianças?
O mais importante é estar alerta para os sintomas, nomeadamente a diarreia e os vómitos mas sobretudo para a icterícia – se esta surgir, devem procurar avaliação médica rapidamente.
São recomendadas as medidas de higiene básicas, tais como a higiene das mãos e regras gerais recomendadas de etiqueta respiratória.
Quais os testes disponíveis no laboratório Germano de Sousa?
Quais os testes disponíveis no laboratório Germano de Sousa?
De acordo com as mais recentes orientações, o diagnóstico laboratorial deve ser feito através de testes antigénicos de biologia molecular (PCR) nos vários produtos biológicos (por exemplo em zaragatoa nasofaríngea, secreções respiratórias, urina, fezes e sangue). Os testes de anticorpos não estão indicados para o diagnóstico em doença aguda.
Testes antigénicos rápidos
- Pesquisa de adenovírus no exsudado nasal
- Pesquisa de adenovírus nas fezes
Testes de biologia molecular por PCR
- Pesquisa de vírus respiratórios em fluídos biológicos
- Painel de vírus respiratórios
- Painel de vírus de gastroenterite aguda
- Pesquisa do DNA do Adenovírus em fluídos biológicos
- Pesquisa do DNA de Adenovírus em fezes
Serologia
- Anticorpo anti-Adenovírus IgG/IgM no sangue
- Anticorpo anti-Adenovírus IgG/IgM no LCR
- Anticorpo anti-Adenovírus IgG/IgM no líquido pleural
Bibliografia
- European Centre for Disease Prevention and Control. Increase in severe acute hepatitis cases of unknown aetiology in children – 28 April 2022. ECDC: Stockholm; 2022
- Comunicado nº C164_01_v1 de 28/04/2022. DGS. 2022
- World Health Organization (23 April 2022). Disease Outbreak News; Multi-Country – Acute, severe hepatitis of unknown origin in children
- Norma de orientação clínica nº 002/2022 de 06/05/2022. Alerta de hepatite aguda de etiologia desconhecida em idade pediátrica – como reportar casos suspeitos. DGS.
- Artigo Germano de Sousa - Hepatites
- Artigo Germano de Sousa - Hepatite A